sábado, 12 de maio de 2012

REDESCOBRINDO NOSSA CIDADE

Esse texto apresenta de forma sucinta a fé e a religiosidade de nosso povo, desde sua origem até os dias atuais, o autor faz uma viajem na história e no espaço geográfico, mostrando o surgimento e a consolidação de nossa identidade.



MANIFESTAÇÕES RELIGIOSAS NO ESPAÇO VIEIRENSE
Por Emerson Ênio

     A mãe de Marcelino Vieira é a fé. Nasceu e cresceu sendo amamentada por esse valor sobrenatural, mas sua manifestação é tipicamente humana, o que permite a inclusão de elementos folclóricos, revelando sua cultura e o diálogo do seu povo com o sagrado.
     As suas ruas guardam promessas e trazem à tona sentimentos profundos que narram a sua história. Cada pedra da cidade registra cotidianamente os medos, a angústia diante das incertezas da vida, misturadas a uma sensação de consolo e de esperança renovadas a cada mistério desse rosário de gente: Antônios e Antônias sertanejos que, aos pés da serra entregam seus destinos aos céus e dançam e cantam e tocam e penduram tirinhas coloridas nos seus santos e vestem túnicas e amarram a cintura com cordões para mostrarem ao mundo sua crença de um jeito simples de quem acredita.
     Em 1861 o então fazendeiro Antônio Fernandes de Oliveira fez uma promessa a Santo Antônio, seu santo de devoção, pedindo que sua família não fosse atingida pela epidemia de cólera que atacava toda microrregião de Pau dos Ferros. Desta forma, prometeu doar parte de suas terras para fazer a construção de uma capela em homenagem ao referido santo, manifestação comum entres os católicos daquela época. Historicamente a formação territorial do município de Marcelino Vieira se deu quando se desmembrou politicamente da cidade de Pau dos Ferros no dia 24 de novembro de 1953.
     No “Alto Oeste” do Rio Grande do Norte as festas religiosas, marco cultural da identidade deste povo, se definem de forma bastante expressiva, a fé católica, a devoção aos santos são elementos bastante vivos nesta região. Historicamente as procissões, os leilões, as novenas atraem um número expressivo de turistas e filhos ausentes para as pequenas cidades do “Alto Oeste”.
     Toda festa ou manifestação religiosa corresponde a um tempo-espaço social, ou seja, uma forma de se deixar transparecer o coletivo que demonstra de certa forma as raízes de um povo. Pois é justamente esta força demonstrada pela coletividade que se faz responsável pelo andamento da festa e que quase sempre vai se fazer ligada com os conceitos econômicos que em tal fase pode ser chamado de turismo, pois a este é dado o papel de dar uma fluidez econômica as festas populares religiosas se fazendo utilizar de uma mistura entre o “sagrado e o profano.”
     Nesse contexto sacralizado há uma estreita relação entre espaço e religiosidade. O primeiro se transforma mediante manifestações do segundo. Durante todo o ano a cidade se prepara para as festividades da “Festa de Junho” como todos chamam; as residências recebem novas pinturas, os meio fios e troncos das árvores são contornados de branco, as bandeirolas coloridas apontam o caminho da matriz e o tapete vermelho é estendido até aos pés da imagem do santo padroeiro.
     A comunidade se sente co-responsável quando, para expressar a fé, se mobiliza em grupos destinados às apresentações litúrgicas, leilões dos objetos ofertados e apresentações culturais em praça pública. O novenário transcende o âmbito da igreja e invade as ruas e as noites, fazendo surgir o elemento profano: festas dançantes, bebidas e parques de diversões.
     Essa rotina operada no espaço permite a constituição do mundo dos moradores, fazendo do seu lugar uma espécie de Santuário de Deus, uma passagem entre o céu e a terra, uma mistura do sagrado com o profano, afirmando que a revelação do espaço tem um valor existencial para o homem religioso.
     Os chamados filhos ausentes da terra se fazem presentes nessa ocasião festiva, tem uma noite do novenário a eles dedicada, para recebê-los e homenageá-los. Esse fato influi na vida de cada um desses filhos migrantes, responsáveis pela propagação dessa fé que é levada para além dos limites do seu primeiro espaço, proliferando-se às margens das grandes cidades. Durante todo o ano, esses vieirenses “paulistas” passam a economizar o seu salário para vivenciarem junto à sua gente, na sua terra natal, aos pés do seu padroeiro, o sonho de “Venceu na vida!”. Nesse sentido, a religiosidade exerce o poder de estreitar laços sociais e homogeneizar espaços.
     Vale salientar também que as vísceras param de roncar quando a alma se sente alimentada.
     É preciso, portanto, respeitar a fé e as concepções divinas de um povo. E Marcelino Vieira acredita no que diz o Êxodo, 3:5: ”Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar onde te encontras é uma terra santa.”.
Agradecimento especial a Professora Fátima Abrantes.

Emerson Ênio, graduado em Geografia pela UERN,
Especialista em Educação Ambiental pelo IFRN
Publicado por ideiaVERMELHA

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