sábado, 28 de janeiro de 2012
Processo eleitoral: momento decisivo para a transformação da vida de nossa cidade
Outra vez, Josefina?
Dona Josefina voltava para casa feliz. Estava conseguindo, junto com outras pessoas, que o pessoal lá do bairro se organizasse melhor para levar adiante as iniciativas para melhorar a vida daquele povo.
O caminho foi longo, mas os frutos estavam aparecendo. Entrando em casa, o marido, seu Maneca, de cara meio fechada, foi logo dizendo:
- Outra vez, Josefina? Quando é que você vai desistir dessa mania de se preocupar com os outros? Por que você não se preocupa mais com você mesma? Pare com essa mania de ficar fazendo política por aí!
Mesmo chateada, Josefina respondeu:
- Nunca, Maneca! Como poderia deixar de fazer o que estou fazendo? Além do mais, quando me preocupo com as coisas do bairro, estou melhorando também a minha vida e a vida da nossa família! Você não percebe que estou ficando mais animada, mas atenciosa com as crianças e com você? Se é preciso mudar alguma coisa para melhor, tudo bem, mas nunca deixarei de fazer o que é bom para mim, para nós e para os outros. Tomara que um dia você também entenda isso!
Politica na Vida
A história de Josefina e Maneca mostra bem a realidade do Brasil e o conceito que as pessoas têm de política.
Muitas pessoas, como seu Maneca, acham que política é coisa para um pequeno grupo de pessoas. Como esse pequeno grupo aparece geralmente só antes das eleições, prometendo mundos e fundos, acaba não existindo compromisso nenhum entre o eleitor e aquele que é eleito. Diante disso, grande parte da população, como o seu Maneca, chega à concluir que “política é coisa suja e que todo político é ladrão”.
Mas também existe muita gente que acredita que todo dia é dia de fazer política, pois política é a arte de governar a cidade. Sendo assim, a política não pode ser algo exclusivo daqueles que foram eleitos, embora eles tenham uma responsabilidade maior para com a cidade, pois são os responsáveis diretos pela votação das leis e pela gestão da cidade.
Em outubro, seremos convocados novamente para a eleição do prefeito e dos vereadores. Para entendermos melhor o processo eletivo, vamos refletir sobre uma questão que está diretamente relacionada ao assunto: democracia.
Eleição é Democracia?
Mas o que entendemos por democracia? Podemos logo afirmar que ela existe onde as pessoas assumem o destino de uma instituição, comunidade, município, estado, país... Sua marca fundamental é o processo de decisão coletiva e a respectiva responsabilidade política que isso gera para todos.
É bastante comum identificar democracia com eleições, como se fossem exatamente a mesma coisa. Este pensamento não é totalmente correto e é fácil demonstrar isso, já que é o nosso caso. Nós vivemos num país onde a população tem acesso ao voto e, teoricamente, vive num sistema democrático. Mas será que vivemos numa nação democrática de fato? É claro que não!
Desde seu surgimento, na Grécia antiga, a democracia manifestou-se de muitas maneiras diferentes. No entanto, são escassos os exemplos históricos de sociedades ou grupos que tenham vivido de acordo com esse ideal.
Democracia Direta e Indireta
A palavra democracia origina-se do grego demos (= povo) e kratos (= autoridade ou poder), ou seja, uma forma de organização que reconhece a cada um dos membros da comunidade o direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos.
Mas aqui surge uma questão bastante complicada: Como os 160 milhões de brasileiros podem participar da gestão dos assuntos públicos do Brasil? Evidentemente, são reduzidas as possibilidades de participação direta, dado o número e a complexidade dos assuntos públicos.
Assim, podemos tirar uma primeira conclusão: só é possível o exercício direto da democracia em algumas pequenas instituições: família, clubes, associações, grupos...
Nos países democráticos é comum o exercício da democracia por meio de um sistema indireto ou representativo. Os cidadãos elegem representantes, cuja participação nas diversas instâncias de instituições garantirá a defesa dos interesses do povo.
Esses representantes fazem parte de vários partidos políticos, que se identificam com os interesses de uma classe ou grupo social e sustentam diferentes opiniões a respeito de como solucionar os problemas da sociedade.
O sistema no Brasil funciona dessa forma. Você vota num candidato e este, se eleito, defende (ou deveria defender) o que é melhor para a sua comunidade, bairro, cidade...
Entendeu agora a importância do seu voto? Você vota em pessoas que depois votarão por você, isto é, farão as leis e administrarão a vida da sua cidade, da sua vida. Por isso fica o conselho: Não jogue seu voto no lixo, pois sua vida estará indo junto!
Democracia pela metade
Mesmo na democracia grega ocorriam situações em que a normalidade democrática era interrompida por meio de mecanismos que se repetiram ao longo da história. Por ocasião de conflitos com uma região ou cidade vizinha, atribuíam-se a alguns generais poderes absolutos enquanto durasse a guerra. Às vezes, depois de encerrada a guerra, aproveitando o prestígio popular conquistado, os generais acabavam apossando-se do poder como ditadores.
Hoje, no Brasil, nós temos um problema parecido: a população exerce seu direito democrático ao votar e acha que com isso acabou sua obrigação como cidadã. Lembram na atitude do seu Maneca? Exatamente! Temos uma democracia pela metade!
Embora o parágrafo único do Art. 1º da constituição brasileira de 1988 afirme que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, os brasileiros não estão assumindo e exercendo este poder.
O voto é o primeiro sinal de que, teoricamente, vivemos num país democrático. Mas a democracia não pode parar por aí. Daí a necessidade de votar em candidatos e partidos que realmente querem trabalhar com o povo durante todo o mandato e não simplesmente quando se aproximam as eleições.
Novamente Josefina
Bom, acredito que você ainda não tenha esquecido da história da dona Josefina. Agora chegou a hora de contar mais uma parte da vida desta mulher, uma verdadeira política!
Na hora do jantar, falou para todos da família que tinha sido eleita a presidente da Associação de Moradores. Os filhos, Mateus e Felipe, fizeram uma festa e abraçaram a mãe. Seu Maneca ficou em silêncio. Antes de dormir, dona Josefina abraçou e beijou o marido. No dia seguinte, além dos afazeres de casa, havia algo de muito importante para o bairro. Ele ficou pensando: Por que será que a esposa tinha tanta confiança das pessoas do bairro?
No dia seguinte, o salão do Conselho Comunitário do bairro estava cheio. Depois de ampla divulgação da reunião, lá estavam representantes da associação de moradores, igrejas, clube de mães, sindicato, etc. Pauta da reunião: Conclusão das discussões sobre o projeto de urbanização do bairro, projeto que seria apresentado na semana seguinte na Câmara de Vereadores. Ah, o vereador do bairro também estava lá.
Uma surpresa: até seu Maneca estava lá! Alguma coisa tinha mudado na cabeça dele, pois sempre afirmara que “todo político é ladrão”.
Adivinhem quem estava coordenando a reunião, ela mesma: dona Josefina! Quando ela começou a falar, seu Maneca deu um sorriso: estava admirado!
Dona Josefina motivou o encontro:
- A história do nosso bairro tem a marca da luta comunitária, onde a participação foi e é a grande vencedora. Valeu a pena o esforço de tanta gente. Em meio a dificuldades e conflitos, assumimos o destino político do nosso lugar. Hoje, graças a Deus, sabemos como é importante a participação de todos para conseguirmos uma vida melhor para todos.
O vereador também acrescentou:
- As conquistas que já tivemos devem-se à participação de muita gente. No início, poucos vinham às reuniões, pois não queriam se envolver com política. Foi um trabalho educativo de mais de três anos, assumido pelas lideranças de várias organizações do bairro. Muitos ainda não participam. Infelizmente não entenderam a importância da verdadeira política. O interessante é que nosso jeito de fazer política já está chamando a atenção de outros bairros do nosso município!
Depois de concluir as discussões sobre o projeto de urbanização do bairro, decidiram que um grande número de pessoas participaria da reunião da Câmara para pressionar os vereadores.
A importância das Eleições
Você percebeu pela história de dona Josefina que todos podemos fazer política. Também percebeu que nem todos os políticos que ocupam cargos eletivos preocupam-se somente com seus interesses particulares.
O maior desafio antes da eleições é o de identificar os candidatos que realmente querem se comprometer com o povo na luta pela melhoria da qualidade de vida. Trata-se de separar o trigo do joio.
Há muitas pessoas que, como são obrigadas a votar, trocam seu voto por favores, até por um prato de comida. Isso não ocorre por acaso, é questão de cultura e por causa da tremenda miséria do povo. Muitas vezes são os maus políticos que ajudam a causar a miséria para depois usarem seu poder de corrupção na compra dos votos da população pobre. É a chamada corrupção eleitoral.
Felizmente há comunidades que se organizam na luta por seus direitos e constroem um novo jeito de fazer política. São lideranças populares que promovem um trabalho educativo de informação e conscientização política. Estimulam a participação do povo, valorizam a sua contribuição, ajudam a criar condições para que todos usufruam da administração pública, etc. Isso é fazer política de verdade!
Mauri Luiz Heerdt
Para refletir
1. Como estamos valorizando os espaços de participação nas organizações populares como: conselhos, associações, movimentos, pastorais, partidos...?
2. A democracia é uma permanente construção. Como vivemos a democracia no nosso cotidiano (família, escola, trabalho...)?
3. Como podemos ser “Josefinas”, saindo de nossas casas para construir uma vida melhor para o bairro, a cidade...?
4. O que faremos para fazer deste processo eleitoral um momento de luta por melhor qualidade de vida?
Fale, Josefina!
Poderíamos nos perguntar: Como surgem os candidatos? Bom, alguns não é preciso nem dizer: basta que tenham dinheiro, uma boa imagem ou o apoio de algum grupo rico. Mas, como vimos na história de dona Josefina, nem todos os políticos são assim. Ninguém melhor que a própria dona Josefina para falar sobre isso.
Como saber se um candidato é bom para a comunidade?
Dona Josefina - Bom, a nossa comunidade estava cansada de ver sempre a mesma história: o cara fala bonito, promete muito, é eleito, entra meio rico e sai muito mais rico, deixando o nosso pessoal cada vez mais abandonado e no buraco. Então os moradores decidiram tentar um caminho novo.
Procuraram um partido e um candidato que não prometesse muito nem quisesse fazer tudo sozinho. Preferiram escolher um prefeito e um vereador que governasse junto com a gente, que consultasse a população, que decidisse onde e como gastar o dinheiro público sempre junto com o pessoal.
Com certeza vocês sentiram uma diferença em relação aos políticos tradicionais, aqueles que aparecem somente antes da eleição!
Dona Josefina – Sim, hoje a comunidade está adquirindo um novo conceito de política. Está sendo uma experiência muito interessante. Muita coisa foi mudada e está mudando. O pessoal foi gostando de ser político sem ser vereador, prefeito, deputado...
Fazer política é coisa de todo mundo. Toda vez que participamos para escolher e decidir sobre o que é melhor, sobre o como fazer, estamos sendo políticos e fazendo política. Até as oposições dos mais ricos, descontentes por estarem perdendo seus privilégios, tornaram-se experiências ricas.
Quais são os maiores dificuldades para encaminhar uma política desse tipo?
Dona Josefina - Existem pelo menos quatro coisas que atrapalham esse tipo de renovação da prática política:
- a força dos “coronéis” e dos políticos tradicionais interesseiros. Eles querem manipular o voto e a vida das pessoas mais pobres, para conservarem sua posição de privilegiados;
- os meios de comunicação. Eles têm sido os grandes eleitores nas últimas eleições. Sendo controlados por famílias e empresas, apóiam candidatos que garantam a continuidade de seus interesses;
- o medo e a dependência da população. Com tanta pressão e dependência é difícil a população vencer o medo para decidir livremente. O crescimento dos pobres aumenta ainda mais sua dependência por causa da necessidade de sobrevivência;
- a falta de organização política da população. Isso faz com que ela não veja e nem tenha alternativas.
E agora, o que vocês estão discutindo?
Dona Josefina - O caminho feito ensina que há muita coisa para ser melhorada. Uma delas, é conseguir maioria de vereadores favoráveis a esse tipo de política. Dessa forma a democracia avançará e, quem sabe, um dia, se estabeleça em todo o Brasil.
*Jornal Missão Jovem
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário